Amilcar de Castro estabeleceu uma reputação imponente com
suas esculturas em grande escala feitas de grossas folhas de ferro.
Comparado pelos críticos aos “recortes de aço de um alfabeto
imaginário” ou ainda “abstrações gigantes de aviões de
papel”, suas obras possuem formas simples e ainda destinam-se a
criar peças delicadas de luz e sombra.
Suas esculturas de ferro foram projetadas para instalações ao ar
livre, visando incentivar a interação com os elementos. Desse modo,
convida o espectador a deliciar-se com as formas e os padrões que a
ferrugem aborda em suas vastas superfícies.
Início da carreira
Filho de um importante
promotor e juiz municipal, acabou formando-se em direito, entretanto,
ainda nesse período, já começava a mostrar aptidão para desenho,
pintura e escultura.
Sua carreira teve início
na área do design gráfico, onde teve papel fundamental ao ser o
responsável pela revolução gráfica do design de diversos jornais
brasileiros da década de 1950. Sua maior contribuição é ligada
diretamente ao Jornal do Brasil.
Durante sua juventude
acumulou diversas participações ligadas a bienais de arte do Rio de
Janeiro e Salvador. Quando recebe o prêmio de primeiro lugar de
escultura no Salão Nacional de Arte Moderna da Bahia, passa a ter
contato com concretistas do estado de São Paulo.
Manifesto neoconcreto
Amilcar de Castro foi um dos artistas mais prolíficos a trabalhar com o legado construtivo da cena artística brasileira. De Castro foi co-signatário do Manifesto neoconcreto em 1959, ao lado do poeta Ferreira de Gullar e das artistas visuais Lygia Clark e Lygia Pape.
Só a partir da década de 1960
começa a se concentrar em criar esculturas. Tendo
sua principal expressão situada no Rio de Janeiro, os
neoconcretistas se distanciaram da característica racionalista
rígida do concretismo desenvolvida pelo grupo paulista.
Desse modo acabam
sendo mais abertos ao orgânico, à subjetividade, à experimentação
e à incorporação de sentimentos entre artista, observador e obra
de arte. Seus métodos adotatos podem ser vinculados diretamente aos
trabalhos realizados ainda como designer gráfico, do mesmo modo que
se associa a sua herança mineira.
Apesar de
ser menos conhecido em Portugal e no resto da Europa, participou de
momentos marcantes da arte brasileira do pós-guerra, como a 2ª
Bienal de São Paulo (1953) e a Exposição Nacional de
Arte Concreta (1956).
Ele também
participou da exposição internacional Konkrete Kunst em
Zurique. Também em 1968, foi para os EUA com uma bolsa da Fundação
Memorial Guggenheim. Mais tarde, voltou ao Brasil e se estabeleceu em
Belo Horizonte.
Neoconcretismo e a relação artística entre duas cidades do
Brasil
O neoconcretismo foi um movimento artístico localizado no Rio de
Janeiro em contraposição ao movimento concreto, nascido em São
Paulo. Foi criado na década de 1950, quando o país vivia uma fase
excepcional de desenvolvimento em todas as áreas: econômica,
política e cultural. O neoconcretismo surge a partir do movimento
concreto.
Embora, por outro lado, eles tivessem grandes diferenças que podem
ser vistas não apenas na concepção da arte, mas nas cores
utilizadas nas pinturas e também no modo de pensar a cidade e o
cotidiano. As ideias também mostram as ambivalências, diferenças e
características das duas grandes e mais famosas cidades do Brasil.
Concretismo e neoconcretismo surgiram nesse mesmo período, trazendo
algumas características e acrescentando outras. A arte, como
expressão social, reflete o ambiente social na subjetividade do
artista, assim como a subjetividade do artista é um reflexo do
ambiente social. Os dois movimentos brasileiros surgiram nesse
contexto e sua história está diretamente ligada ao panorama
político e cultural do país.
O neoconcretismo nascido no Rio de Janeiro em 1959, com a publicação
do Manifesto de Neoconcretos pelo poeta Ferreira Gullar, rompe com a
apreensão de uma arte inteiramente racional e rígida e inicia a
realização de uma obra artística “concreta”, mas mais suave,
com o uso de uma subjetividade inerente à arte.
Esse movimento permitiu a adição de outras cores e formas, bem como
a imaginação do artista. A arte seguiu os contornos da cidade do
Rio, acompanhou a intensidade das cores graças ao sol. Os artistas
não eram completamente independentes para fazer o que queriam, mas a
paleta de cores era mais ampla. A arte dos neoconcretos tinha um
esboço muito específico e a apreensão da racionalidade seguia
outro caminho.
Período acadêmico
Após voltar para sua cidade natal, o
mineiro passa a dedicar-se a atividades voltadas para a área da
educação. Tornou-se professor na Fundação Escola Guignard entre
os anos de 1974 até 1977. Em resumo, passou a ensinar expressões
bidimensionais e tridimensionais.
Além disso tornou-se também
professor de composição e esculturas da Escola de Belas Artes na
Universidade Federal de Minas Gerais, cargo que ocupou durante 11
anos, entre 1979 até 1990. Conciliou ainda no ano de 1979 uma turma
de escultura na Fundação de Arte de Ouro Preto.
O período em que esteve ligado a
área acadêmica não o fez parar de produzir e criar suas
esculturas. Durante esse período retomou com intensidade os desenhos
gráficos, dando continuidade à escultura que começara a elaborar
antes de seu período em solo americano.
De
Castro desenvolve esse tipo de trabalho até sua morte. Ele é capaz
de expressar a leveza de uma folha de papel em suas esculturas de
aço, criando inúmeras variações do mesmo plano.
Diálogo de suas obras
Seu trabalho emprega o corpo, a materialidade e a geometria para
abordar abstratamente ocorrências familiares, mas muitas vezes
despercebidas, como a experiência cotidiana de como um corpo
interage, altera e geralmente se move pelo mundo.
Ao longo de 4 décadas seus trabalhos não sofreram qualquer desvio,
mantendo-a sempre em perfeito equilíbrio. Suas obras permanecem em
constante diálogo com o espaço externo onde estão situadas. Suas
esculturas são concisas, austeras, enxutas, e esse diálogo surge a
partir da solidão que acompanha o artista. Tornou-se mestre do corte
e da dobra de ferro, fazendo com que suas obras pareçam estabelecer
um monólogo sobre si mesmas, em constante indagação crítica.
Ao longo de mais de 50 anos, seus trabalhos apresentam uma potência
poética e solidificação de uma linguagem pessoal. Isso acontece
através da experimentação dos mais diversos materiais e diferentes
técnicas que o artista passou a utilziar. Desde esculturas,
desenhos, gravuras e projetos gráficos. Entretanto, o aço Cor-Ten é
o elemento forte e predileto nas execuções da grande maioria de
suas obras.
O intuito de Amilcar de Castro é dialogar com as raízes
construtivas que anunciam diversas novas possibilidades ligadas ao
pensamento geométrico da arte, como atividade de construção
social.
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