terça-feira, 30 de junho de 2015

Acabam as desculpas e filme solo do Hulk pode muito bem ser produzido


O Universo Cinematográfico Marvel (UCM) continua em expansão ano após ano com lançamentos pontuais de seus heróis. Já estão confirmados novos heróis com os filmes de Homem Formiga (2015), Doutor Estranho (2016), Pantera Negro (2017) e Capitã Marvel (2018). Outros filmes ganharão sequências como Capitão América (2016), Thor e Guardiões da Galáxia (2017) e Os Vingadores (2018). Além da possibilidade do filme solo do Homem Aranha, agora que os direitos sobre o Cabeça de Teia estão de volta à Marvel. Porém um herói continua sem força nos bastidores para conseguir enfim seu (novo) filme solo: O Incrível Hulk.

Mark Ruffalo, em recente entrevista ao site Collider, disse os motivos de não vermos tão cedo um filme do Gigante Esmeralda:

"No que se refere a um filme solo do Hulk, a Marvel ainda não tem os direitos. Isso ainda é propriedade da Universal, então há essa questão (...). É um grande impedimento para se avançar com isso. Mas eu não acho que seja insuperável".

O intérprete de Bruce Banner está meio certo, mas também meio errado por tal pronunciamento. De fato, os direitos não são 100% da Marvel, porém ela tem total poder de produzir ou não um filme solo do Hulk. A Universal, antiga detentora dos direitos, após o fiasco do primeiro filme do Hulk (2003) de Ang Lee, não produziu uma sequência do filme em até dois anos (2005) e perdeu automaticamente os direitos sobre o herói, conforme previsto em contrato. Portanto o filme O Incrível Hulk (2008) de Louis Leterrier, já tinha seus direitos totalmente voltados à Marvel.

A Forbes enumerou três principais motivos para que os Estúdios Marvel não cogitem, ao menos por hora, a fazer um filme sobre o Golias Esmeralda, são eles: 
  1.  Os filmes anteriores do Hulk, recentes, tiveram um retorno de público e crítica bem inferior aos dos outros filmes da Marvel, sendo um risco desenvolver um novo filme do super-herói.
  2.  O Hulk parece funcionar melhor como um curinga do que como personagem central com um filme próprio.
  3.   Reimaginar o Hulk como nada mais que um monstro furioso não impressionou o público nos filmes anteriores.
Na minha visão, após a estreia de Vingadores, o cinema de super-herói, principalmente o do UCM, mudou completamente, atingindo um patamar onde a Marvel pode dar-se ao luxo de lançar heróis como Pantera Negro, Capitã Marvel e Homem Formiga, personagens completamente secundários dentro do próprio universo Marvel dos quadrinhos e principalmente desconhecidos do público em geral.

O status que a empresa já garantiu lhe permite lançar filmes dos heróis mais desconhecidos possíveis que ainda lhe renderá lucro. Lembrando ainda que mesmo considerados fracassos, nenhum desses filmes do Hulk deram prejuízo (Hulk de 2003 - US$245.3 milhões; O Incrível Hulk de 2008 - US$263.4 milhões). Para efeito de comparação, o Capitão América: O Primeiro Vingador arrecadou US$370.5 milhões, “apenas” US$107,1 milhões a mais que o filme de 2008. Se querem receitas acima dos US$500 milhões entende-se perfeitamente o lado da Marvel, porém ainda assim não há alarde quanto a uma má receita.

Hoje Mark Ruffalo como Bruce Banner é muito mais carismático que Eric Bana e Edward Norton juntos. Seus Hulk's também não competem com a qualidade de CGI utilizada nos últimos dois filmes dos Vingadores. Portanto acho errônea essa análise de que a Marvel tem medo de lançar mais um filme. Não haveria motivo suficiente para sustentar essa hipótese, uma vez que os fãs clamam por um novo filme. Talvez pautados na esperança de ver, enfim, seu herói retratado nas telonas de maneira digna.

Não quero comparar a carga dramática entre um herói e outro, mas após os grandes filmes de Batman do diretor Tim Burton, Joel Schumacher destruiu completamente a franquia do Homem Morcego nos cinemas até que Christopher Nolan reciclasse tudo que já havíamos visto e desse início (para muitos) a melhor franquia de filmes de super-heróis de todo o cinema com a trilogia do Cavaleiro das Trevas em 2004.

O Hulk dos dois filmes do Vingadores já ultrapassou a barreira que o assemelha ao Dr. Jekyll e Mr. Hyde (O Médico e o Monstro), podendo controlar sua transformação no clímax do primeiro filme e relacionar-se com a Viúva Negra no segundo, além de (SPOILER ELERT!) no final do longa ainda ter a capacidade cognitiva necessária para pilotar uma nave e fugir da zona de guerra deixando Romanoff para trás.

Assim como o novo filme do Homem Aranha, que será produzido pela Marvel em parceria com a Sony, não contará a história de origem do personagem, um novo filme do Hulk também pode pular essa parte. Pode até mesmo explorar o final dos Vingadores, como disse no parágrafo anterior. Alguns fãs chegaram a cogitar a hipótese de a história ser baseada na série Planeta Hulk, que inclusive bate com a evolução cognitiva que expus também no parágrafo acima.

A Marvel está numa posição completamente cômoda e estável para poder recriar os filmes que quiser. Basta ter a vontade e a intenção de recriar aquele que é, ao lado do Homem Aranha, o personagem mais querido do grande Stan Lee (e meu também, diga-se de passagem). A Marvel já provou por A+B que acerta a mão quando o assunto é “blockbusters”. Um estúdio que conseguiu reunir uma equipe composta por um humano contrabandista, a mulher mais perigosa do universo, um assassino inescrupuloso, uma “arvore” humanoide e um guaxinim de bazuca, que nunca tiveram o mesmo sucesso nos quadrinhos, ser uma das principais receitas da empresa no cinema, mais um filme do Hulk não deve doer.

Resenha de Filme: Invencível


Uma das mais emocionantes histórias de sofrimento e superação, vinda do estoque interminável que foi a Segunda Guerra Mundial e da ferrenha guerra entre Estados unidos e Japão, sempre rendem boas histórias se bem revirado for o fundo do baú. Invencível (2014), segundo filme de Angelina Jolie na direção, é mais um desses que tenta nos fisgar pela dramaticidade que a história apresenta e não pela simples história patriótica de guerra que os americanos tanto gostam. Fazer uma cinebiografia de um reconhecido herói de guerra pode levar o diretor do céu ao inferno em questão de “takes”.

Com uma atuação que não chega a ser brilhante mas que carrega uma carga dramática interminável, Jack O’Connell interpreta Louis Zamperini, medalhista olímpico que é convocado à luta na Segunda Guerra Mundial e acaba tendo seu avião abatido pelas forças do exército japonês em pleno oceano pacífico onde fica à deriva por intermináveis 47 dias. É capturado pelos japoneses e passa o restante do conflito aprisionado em uma prisão militar japonesa. É atormentado pelo temido oficial japonês Mutsushiro Watanabe (Miyavi) no restante da história. A partir daí, a trama gira no confronto entre o prisioneiro americano e o oficial japonês.

O filme é grandioso nos termos técnicos. Tanto os efeitos gráficos quanto a fotografia de Roger Deakins são sensacionais. Peca um pouco na falta de música, num filme tão longo, um pouco de música seria mais interessante, ainda que o silêncio dramático seja necessário em certos momentos. Mas onde o longa deixa mais a desejar é no próprio roteiro, atribuindo um pouco à direção. O filme demora um pouco mais que o esperado para entrar no clímax e isso pode causar incômodo. A direção às vezes parece não conseguir dar conta de uma história tão rica quanto essa. Em um filme baseado em fatos reais, as vezes os diretores precisam uma certa “liberdade cinematográfica” para fazer do longa um filme mais aprovável do que de fato aconteceu.

As interpretações foram muito bem executadas, os atores Garrett Hedlund (Comandante John Fitzgerald) e Domhnall Gleeson (Russell Allen 'Phil' Phillips) tiveram atuações de destaque, Jack O’Connell foi primoroso, a exceção fica por conta de Miyavi. Desde que vi seu nome dentre os principais do filme, eu que conheço a carreira do excêntrico japonês como músico, fiquei curioso em ver um papel de grande porte e diferente de tudo que ele já havia feito em sua carreira, sem os cabelos coloridos ou roupas chamativas. Ele se vai bem até certo ponto, mas talvez a falta motivação e a quebra da característica de seu personagem que amolece numa hora que não deveria, e isso nem pode ser colocado apenas em sua conta, tenha sido um fator que fez com que muitos outros críticos tenham condenado a atuação do artista.

Tanto na sua carreira com filmes blockbusters misturados aos artísticos, quanto na sua vida pessoal, Angelina Jolie nunca foi um produto hollywoodiano embora tenha todos os atributos para isso. Casada com um galã de cinema, dona de atributos que causam inveja às mulheres e são irresistíveis aos homens ao mesmo tempo em que é embaixadora da Unicef na África, Jolie escolheu o caminho mais difícil para estampar sua estrela dentre as tantas de Hollywood. O filme Invencível, não chega a ser o novo “O Resgate do Soldado Ryan” (1988) mas também passa longe de ser um “Pearl Harbor” (2001). Foi mais um grande desafio bem executado na carreira da diferenciada atriz, agora, diretora.


Ficha Técnica

Estreia:
15/01/2015
Gênero:
BiografiaDramaGuerra
Duração: 137 min.
Origem: Estados Unidos
Direção:
Angelina Jolie
Roteiro:
Ethan CoenJoel CoenRichard LaGraveneseWilliam Nicholson
Distribuidor: Universal Pictures do Brasil
Classificação: 14 anos
Ano: 2014

Resenha de Livro: O Código dos Justos


Um erro crasso do marketing é sempre tentar rotular um novo sucesso com a necessidade de tomar o trono do anterior, ou ainda, comparar ao maior nome ligado ao determinado assunto. Cansamos de presenciar o surgimento do “novo Betthoven”, “novo Hitchcock” e o mais absurdo de todos “o novo Neymar” – o garoto tem apenas vinte e três anos, ele nem “acabou” ainda. Quando Sam Bourne, que é o pseudônimo do jornalista Jonathan Freedland (48), escreveu e lançou o livro O Código dos Justos em 2006, seu novo romance foi prontamente comparado com o Código Da Vinci e Bourne apontado como o “novo Dam Brown” – os dois tem quase a mesma idade, parem com isso. O que pode ser discutido é a influência que Brown teve sobre Bourne, que se torna evidente pelo estilo de escrita que ele apresenta em seu romance. Mas por causa desse apelo da mídia para tentar promover o livro de Bourne, ela acaba criando uma concorrência desnecessária. Quem já leu “Da Vinci” e vai começar a ler “os Justos” acaba prestando atenção nos detalhes que possam ligar os dois autores e procurar as semelhanças de um e outro para formular a sua própria crítica em cima disso.

A história começa com Will Monroe, um jornalista recém-chegado ao New York Times cobrindo seu primeiro caso de homicídio em Manhattan. Um homem é brutalmente esfaqueado. Seria só mais um caso comum, uma rixa entre bandidos ou acerto de contas, mas um detalhe saltava aos olhos: a vítima foi anestesiada antes de morrer e cuidadosamente coberta no local do crime. Durante as investigações Will descobre duas coisas que não fazem o menor sentido numa mesma frase: o homem era um cafetão e tido como homem bom. O contraditório caso deixou uma pulga do tamanho de um alce atrás da orelha do jornalista e claro que nosso protagonista, como se faz necessário dentre o universo dos romances de suspenses investigativos da “Cartilha Dashiell Hammett” de qualidade, é completamente curioso e não deixa os detalhes passar em vão.

Sua investigação sobre o caso lhe rende a primeira página do Times, e por causa do seu repentino sucesso, sem muito tempo para digerir toda essa ideia, Will precisa ir para Montana investigar mais um cruel homicídio. Quando chega até seu destino descobre mais uma vez que a vítima também havia feito um ato de extrema bondade antes de morrer violentamente. Ainda antes que descobrisse qual a ligação entre esses dois casos recebe uma mensagem de texto anônima em seu celular que muda sua rotina a partir dali transformando sua vida no maior inferno... "Estamos com sua mulher. Não chame a polícia, ou se arrependerá. Para sempre".

Ao retornar para Nova York descontroladamente, Will recorre a um velho amigo expert em computação chamado Tom, que o auxilia na busca por sua amada esposa Beth. Juntos eles descobrem que a mensagem partiu do Brooklyn, mais especificadamente de uma parte judaica ortodoxa. Quando se dá conta, Will está se envolvendo com gente da mais alta cúpula da comunidade hasídica de Nova York. Toda a história é recheada de dramaticidade envolvendo lendas e singularidades da congregação judaica. A trama se desenrola sobre uma lenda que aponta 36 pessoas justas que dão o equilíbrio necessário para o mundo existir em harmonia.

“Segundo a lenda Hasídica, em todas as gerações há 36 homens justos aos olhos de Deus, servem ao bem da humanidade, são desconhecidos, são homens comuns, pecadores que não procuram realizações pessoais, e não sabem que são a salvação da humanidade perante a ira de Deus. Eles são a justificativa para que Deus não destrua a todos nós.
Se um dos justos perecer, e Deus não for capaz de encontrar alguém humilde, sincero, e de coração puro para substitui-lo, então.... O mundo acabará imediatamente! ”

Na procura por pistas que possam leva-lo ao paradeiro de sua donzela, nosso herói descobre muitos inimigos, mas também alguns aliados. Ele recebe mensagens de algum estranho, totalmente decodificadas, que parecem querer ajuda-lo a chegar até sua esposa. Nesse momento somos apresentados ao melhor personagem de todo o livro, sua ex-namorada e mestre em misticismo judaico, TC. Ela se torna mais relevante para o desenrolar da trama que o próprio Will, que aliás é muito sem sal. Assim como Indiana Jones em Caçadores da Arca Perdida que se existisse ou não, os nazistas teriam encontrado a Arca, levado para a ilha e todos morreriam ao abri-la, exatamente como aconteceu, Will é quase irrelevante para a história. Temos no livro um protagonista que não passa muito carisma, não me parece inteligente e sempre precisa da ajuda de terceiros, muito diferente do respeitado Robert Langdon – e dá-lhe comparação. TC então se encarrega de ser o cérebro das operações. Ela desvenda a maioria dos mistérios e ainda se revela uma personagem carismática e com muita carga dramática. Se fosse um filme da Fox, certamente TC ganharia seu filme solo.

A obra acerta em cheio por explorar a sociedade judaica. O suspense está presente e fixa a atenção. A leitura informal em primeira pessoa é gostosa e se desenrola com facilidade. O leitor se sente preso, no bom sentido, à leitura. Bourne peca apenas por querer estender demais a trama. As 476 páginas, mesmo que aconteça algo de relevante na maioria delas, se torna um pouco cansativa. Poderia ser um pouco mais direta e objetiva. Outro ponto que não combinou é o título “abrasileirado”. Em inglês o livro se chama “The Righteous Men” que ficaria “Os Homens Justos”, mas voltando àquela história do começo deste texto, colocamos esse pequeno feito na conta dos publicitários que mais uma vez tentaram colocar nos estandes um nome de impacto, nada criativo, para a disputa com Dan Brown.


Explorar o misticismo judaico, as lendas do Talmude e os ensinamentos da Cabala refletem em um livro extremamente intrigante, sarcástico, cheio de referências e figuras de linguagem a obra de Bourne possui um humor pontual. Os personagens contidos nesse livro são mais humanizados tornando o livro mais crível em alguns aspectos, embora obrigue o leitor a acreditar em coincidências num nível acima das probabilidades estatísticas, absurdas até mesmo para Lewis Carroll e seu Alice No País das Maravilhas. O resultado da leitura de “O Código dos Justos” também conhecido como “O Código Da Vinci Judeu”, é positivo. Embora muito criticado, alguns elementos foram de bom grado. A maneira como ele relata os assassinatos de alguns dos justos, como o pastor que é executado no Rio de Janeiro, o homem de negócios bem-sucedido que aparece morto na Tailândia e o adolescente indiano que é estrangulado em Mumbai, criam uma fissura entre o enredo principal e os acontecimentos a milhares de quilômetros dali, trazendo a público a memória desses personagens tão importantes para a história da humanidade. Um desafio para o leitor decifrar todos os códigos e enigmas contidos neste thriller. Impossível descobrir o que realmente acontece, ou quem está por trás de todo o enigma. Quando você pensa que está prestes a fazer uma revelação, um novo quebra-cabeças é apresentado. O final é surpreendente, quando você espera que a história acabe com um clichê costumeiro, ela tem um desfecho tocante. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

O Hard Rock Volta a ter um Protagonista de Cartola


Ele está de volta. E não veio só. Slash traz em seu novo disco, toda habilidade musical que por muitos anos permaneceu escondida, porém intacta. “World On Fire” (2014) é seu terceiro álbum solo, mas podemos dizer que neste trabalho Slash reencontrou o caminho para uma banda de sucesso. Depois da conturbada saída do Guns n’ Roses no final da década de 1990 e mais recentemente do fim do Velvet Revolver, mesmo que ainda não oficializado, o novo álbum do guitarrista mais adorado dos publicitários, é sem sombra de dúvidas algo além de um projeto solo. É a confirmação de um grande conjunto de rock.

Juntamente com a banda The Conspirators, do baterista Brent Fitz, do ótimo baixista Todd Kerns e do carismático e talentoso vocalista Myles Kennedy, Slash volta aos holofotes com um álbum audacioso para os tempos modernos, onde singles e músicas comerciais reinam. Com a bagatela de 17 faixas, a maioria delas escrita pelo próprio Slash, o novo projeto nada deixa a desejar aos grandes mestres do hard rock. Alguns críticos foram sucintos em afirmar que a quantidade de músicas prejudicou o álbum. Segundo o próprio Slash, em entrevista a Rolling Stones Brasil “gostamos mais do convencional. Fazer um álbum é dedicar muito de nosso trabalho. Não gostamos da ideia das músicas de publicidade”. Na mosca.

O “carro chefe” “World On Fire”, música que leva o nome do álbum, é impactante e diferente do que estamos acostumados nos anos 2000. Possui uma pegada com riffs simples e diretos que lembram muito as bandas de hard rock das décadas de 1980 e 1990. Saul Hudson volta para as raízes que o tornaram o grande guitarrista Slash. O solo é forte e rápido, caminhando pela penta E (mi) por todo o braço de sua inseparável Les Paul. Uma música até certo ponto grudenta, pois impregna na mente ao ponto de pegar-se cantarolando em alguns momentos. Uma verdadeira música “chiclé”. Mas um “chiclé” dos bons, assim como Sweet Child O’ Mine, do seu antigo Guns N’ Roses.

Outra ótima música, na minha opinião a melhor, é “Battleground”. Sua letra é daquelas de tocar no coração, simples, porém com muito conteúdo. Os riffs são lentos e muito bem trabalhados. Todd aplica uma sequência grave nos baixos e dá o toque pesado que a melodia precisa. A entrega de Myles aqui é evidente e nos brinda com sua melhor performance nos vocais. O solo é daqueles que é difícil de esquecer, tão belo quanto fora “November Rain”. A estrutura da composição vai aumentando e diminuindo conforme o clímax vai chegando, tornando essa uma música completa.

Com destaque para a performance nos palcos, Slash ainda parece incontrolável. O show, realizado no Espaço das Américas, na Barra Funda, lembrou as grandes apresentações do ápice do Guns da turnê “Use Your Illusion”. Percorrendo o palco todo, não parava por um segundo sequer e a energia transbordava por sua inseparável cartola. Parecia o mesmo jovem de décadas atrás. Myles também exalava simpatia e bom humor, sempre interagindo com a plateia quando, entre uma conversa e outra, descobriu que uma de suas fãs (que havia até escrito “Myles I Love U” no colo) estava fazendo aniversário naquele dia, para então dedicar a próxima música à ela. Ok, é clichê, mas é impressionante como o público adora um clichê durante os shows.

Já o ponto alto para alguns, mas baixo para outros, foi o solo de guitarra da música “Rocket Queen” que durou mais de 15 minutos (ao todo, a música durou 22 minutos). Algumas pessoas estavam empolgadas, com seus celulares a postos para registrar cada dedilhada outros já estavam de braços cruzados bocejando querendo logo que começasse a próxima música. Vai dos gosto e idolatria de cada um.

Diferente de seu primeiro álbum “Slash” (2010), que contava com diferentes músicos nos vocais como Ozzy Osbourne e Fergie, “Apocalyptic Love” (2010) e “World On Fire”, são mais consistentes enquanto banda. Não é difícil imaginar que no futuro essa seja a formação ideal para o guitarrista inglês voltar a ser protagonista no mundo do rock. Porém, diferente das bandas anteriores, a sintonia e a comunhão (sem falar na adoração, por que não?) que Myles tem por Slash, podem fazer perpetuar o grupo por muito tempo. Em comparação ao Velvet Revolver, dessa vez, sobraram poucas brechas para músicas experimentais e mais espaço para o que o Saul Hudson gosta e sabe fazer de melhor, o bom e velho hard rock.

Ficha Técnica:
World On Fire - 
Slash feat. Myles Kennedy & The Conspirators
Selo: Dik Hayd International / Roadrunner Records
Produtor:
Michael Baskette
Ano: 2014

Com: Slash (guitarra solo e rítmica), Myles Kennedy (vocal), Todd Kerns (baixo e backing vocals) e Brent Fitz (bateria, percussão e piano elétrico).
Tracklist:

01. World On Fire
02. Shadow Life
03. Automatic Overdrive
04. Wicked Stone
05. 30 Years To Life
06. Bent To Fly
07. Stone Blind
08. Too Far Gone
09. Beneath The Savage Sun
10. Withered Delilah
11. Battleground
12. Dirty Girl
13. Iris Of The Storm
14. Avalon
15. The Dissident
16. Safari Inn
17. The Unholy


A Ignorância em Série


Da revista Super Interessante, passando pelas comunidades do falecido Orkut até chegar aos aplicativos do Facebook, sendo jovem ou adulto, pelo menos uma vez na vida, nós já fizemos algum questionário para saber “qual personagem de série nós seríamos”. A grande maioria das pessoas que assistem as séries americanas, se encantam com um personagem em particular, o bobo. Aquele que pode ser bonito, charmoso, engraçado ou bem sucedido, mas juntamente a essas qualidades, ele é na verdade o mais burro de toda a série. Exemplos não faltam: Penny (The Big Bang Teory), Jake (Two and a Half Man), Junior Kyle (My Wife and Kids), Michael Kelso (That’s 70s Show), Kel Kimble (Kenan & Kel), Joey Tribiani (Friends), Homer Simpson (The Simpsons), Chelsea (That’s so Raven – As Visões da Raven) e muitos outros.

Fato é que esses são os personagens mais populares do público. A maneira como esses papéis são explorados, a qualidade dos atores nas interpretações e a simplicidade de cada um, faz com que seus trejeitos sejam lembrados a todo momento por frases de efeito ou suas particularidades. Quem nunca lançou um “How you doin?” famosa frase de conquista do Joey Tribiani? Ou um famoso “D’oh!”  de Homer Simpson? Ou ainda, decorou algum dos poemas de Junior Kyle de ponta a ponta? Não se pode negar a influência e popularidade que esses personagens conseguem ter. E sabemos o motivo. Por que simplesmente são “burros”. Não fazem graça querendo ser engraçados, mas na maioria dos casos, são cômicos pois são naturalmente bobos e inocentes.

Só que quando você fica feliz por seu Facebook mostrar que o personagem que mais se parece com você é um desses, por que você despreza aqueles que realmente são assim na vida real? Acontece que dentro da TV, no mundo da ficção, amamos os chamados ‘burros’, mas quando conhecemos eles aqui do lado de fora, não é bem assim que acontece. As pessoas não têm paciência com quem é assim. Não gostam de serem vistas com elas. Não gostam de fazer os trabalhos acadêmicos no mesmo grupo. Não gostam de se relacionar com elas – duvido que você negaria uma Penny. As pessoas aqui fora, sentem pena. Se acham superiores e acabam tirando vantagem. Falam mal pelas suas costas. Fazem chacota e humilha-as. É triste e vergonhoso em alguns momentos.

Mas então, por que existe essa diferença? Qual o motivo que te leva a amar o Jake mas odiar o filho da sua tia que é burro como uma porta? Seriam esses personagens uma espécie de mico de circo? Bobo da Corte, quem sabe? Só servem para nos fazer rir e ver o quão idiotas são as pessoas que eu desprezo? Por que você, que se acha intelectual, culto, inteligente e esperto, não consegue entender os tipos de dificuldades que o ‘burro’ que senta ao seu lado passa? É difícil para você, descer do alto do Monte Olimpo que é esse seu ego, para socializar com esse tipo de “gentalha”? Vá lá saber.

Perceba que em algum lugar do seu convívio, provavelmente existe alguém assim –e se não existir, esse alguém pode ser você. Que quando fala alguma besteira, todos ao seu redor dão risada. Quando você precisa dar um exemplo de idiotice, sempre lembra de alguma situação vivida por ele. Quando o grupinho está reunido, ele é sempre o ponto de partida para começar a “tiração” de sarro. Então dá para dizer que ser esse ‘burro’, fora da TV não é tão legal assim. O mundo não recepciona tão bem quem é estranho e pouco inteligente. O mundo, quer é levar vantagem em cima deles.


Posso ser muito conclusivo, precipitado por não levantar um estudo ou aprofundar-me efetivamente nesse caso. Posso ter cometido algum equívoco, claro. Uma coisa pode não ter ligação direta com a outra, também. Mas há muito tempo venho percebendo isso nos ambientes que frequento. Tanto no trabalho, em casa, nas salas de aula, existe um Joey ou uma Penny que são menosprezados. Às vezes é até estranho a pessoa dizer “amo a Penny” e dizer logo em sequência “aquela garota na frente da sala é muito estúpida”. Não sou o He-Man para deixar uma lição de moral no final da história e muito menos quero pregar a paz e o amor e dizer que devemos amar o próximo como a nós mesmos, pois o último que tentou isso acabou numa pior. Mas se eu puder deixar pelo menos uma reflexão no subconsciente de alguém, entendam que quem acaba se passando por esperto, na verdade acaba sendo mais ignorante que aquele que é vexado.