terça-feira, 23 de junho de 2015

O Hard Rock Volta a ter um Protagonista de Cartola


Ele está de volta. E não veio só. Slash traz em seu novo disco, toda habilidade musical que por muitos anos permaneceu escondida, porém intacta. “World On Fire” (2014) é seu terceiro álbum solo, mas podemos dizer que neste trabalho Slash reencontrou o caminho para uma banda de sucesso. Depois da conturbada saída do Guns n’ Roses no final da década de 1990 e mais recentemente do fim do Velvet Revolver, mesmo que ainda não oficializado, o novo álbum do guitarrista mais adorado dos publicitários, é sem sombra de dúvidas algo além de um projeto solo. É a confirmação de um grande conjunto de rock.

Juntamente com a banda The Conspirators, do baterista Brent Fitz, do ótimo baixista Todd Kerns e do carismático e talentoso vocalista Myles Kennedy, Slash volta aos holofotes com um álbum audacioso para os tempos modernos, onde singles e músicas comerciais reinam. Com a bagatela de 17 faixas, a maioria delas escrita pelo próprio Slash, o novo projeto nada deixa a desejar aos grandes mestres do hard rock. Alguns críticos foram sucintos em afirmar que a quantidade de músicas prejudicou o álbum. Segundo o próprio Slash, em entrevista a Rolling Stones Brasil “gostamos mais do convencional. Fazer um álbum é dedicar muito de nosso trabalho. Não gostamos da ideia das músicas de publicidade”. Na mosca.

O “carro chefe” “World On Fire”, música que leva o nome do álbum, é impactante e diferente do que estamos acostumados nos anos 2000. Possui uma pegada com riffs simples e diretos que lembram muito as bandas de hard rock das décadas de 1980 e 1990. Saul Hudson volta para as raízes que o tornaram o grande guitarrista Slash. O solo é forte e rápido, caminhando pela penta E (mi) por todo o braço de sua inseparável Les Paul. Uma música até certo ponto grudenta, pois impregna na mente ao ponto de pegar-se cantarolando em alguns momentos. Uma verdadeira música “chiclé”. Mas um “chiclé” dos bons, assim como Sweet Child O’ Mine, do seu antigo Guns N’ Roses.

Outra ótima música, na minha opinião a melhor, é “Battleground”. Sua letra é daquelas de tocar no coração, simples, porém com muito conteúdo. Os riffs são lentos e muito bem trabalhados. Todd aplica uma sequência grave nos baixos e dá o toque pesado que a melodia precisa. A entrega de Myles aqui é evidente e nos brinda com sua melhor performance nos vocais. O solo é daqueles que é difícil de esquecer, tão belo quanto fora “November Rain”. A estrutura da composição vai aumentando e diminuindo conforme o clímax vai chegando, tornando essa uma música completa.

Com destaque para a performance nos palcos, Slash ainda parece incontrolável. O show, realizado no Espaço das Américas, na Barra Funda, lembrou as grandes apresentações do ápice do Guns da turnê “Use Your Illusion”. Percorrendo o palco todo, não parava por um segundo sequer e a energia transbordava por sua inseparável cartola. Parecia o mesmo jovem de décadas atrás. Myles também exalava simpatia e bom humor, sempre interagindo com a plateia quando, entre uma conversa e outra, descobriu que uma de suas fãs (que havia até escrito “Myles I Love U” no colo) estava fazendo aniversário naquele dia, para então dedicar a próxima música à ela. Ok, é clichê, mas é impressionante como o público adora um clichê durante os shows.

Já o ponto alto para alguns, mas baixo para outros, foi o solo de guitarra da música “Rocket Queen” que durou mais de 15 minutos (ao todo, a música durou 22 minutos). Algumas pessoas estavam empolgadas, com seus celulares a postos para registrar cada dedilhada outros já estavam de braços cruzados bocejando querendo logo que começasse a próxima música. Vai dos gosto e idolatria de cada um.

Diferente de seu primeiro álbum “Slash” (2010), que contava com diferentes músicos nos vocais como Ozzy Osbourne e Fergie, “Apocalyptic Love” (2010) e “World On Fire”, são mais consistentes enquanto banda. Não é difícil imaginar que no futuro essa seja a formação ideal para o guitarrista inglês voltar a ser protagonista no mundo do rock. Porém, diferente das bandas anteriores, a sintonia e a comunhão (sem falar na adoração, por que não?) que Myles tem por Slash, podem fazer perpetuar o grupo por muito tempo. Em comparação ao Velvet Revolver, dessa vez, sobraram poucas brechas para músicas experimentais e mais espaço para o que o Saul Hudson gosta e sabe fazer de melhor, o bom e velho hard rock.

Ficha Técnica:
World On Fire - 
Slash feat. Myles Kennedy & The Conspirators
Selo: Dik Hayd International / Roadrunner Records
Produtor:
Michael Baskette
Ano: 2014

Com: Slash (guitarra solo e rítmica), Myles Kennedy (vocal), Todd Kerns (baixo e backing vocals) e Brent Fitz (bateria, percussão e piano elétrico).
Tracklist:

01. World On Fire
02. Shadow Life
03. Automatic Overdrive
04. Wicked Stone
05. 30 Years To Life
06. Bent To Fly
07. Stone Blind
08. Too Far Gone
09. Beneath The Savage Sun
10. Withered Delilah
11. Battleground
12. Dirty Girl
13. Iris Of The Storm
14. Avalon
15. The Dissident
16. Safari Inn
17. The Unholy


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