terça-feira, 23 de junho de 2015

A Ignorância em Série


Da revista Super Interessante, passando pelas comunidades do falecido Orkut até chegar aos aplicativos do Facebook, sendo jovem ou adulto, pelo menos uma vez na vida, nós já fizemos algum questionário para saber “qual personagem de série nós seríamos”. A grande maioria das pessoas que assistem as séries americanas, se encantam com um personagem em particular, o bobo. Aquele que pode ser bonito, charmoso, engraçado ou bem sucedido, mas juntamente a essas qualidades, ele é na verdade o mais burro de toda a série. Exemplos não faltam: Penny (The Big Bang Teory), Jake (Two and a Half Man), Junior Kyle (My Wife and Kids), Michael Kelso (That’s 70s Show), Kel Kimble (Kenan & Kel), Joey Tribiani (Friends), Homer Simpson (The Simpsons), Chelsea (That’s so Raven – As Visões da Raven) e muitos outros.

Fato é que esses são os personagens mais populares do público. A maneira como esses papéis são explorados, a qualidade dos atores nas interpretações e a simplicidade de cada um, faz com que seus trejeitos sejam lembrados a todo momento por frases de efeito ou suas particularidades. Quem nunca lançou um “How you doin?” famosa frase de conquista do Joey Tribiani? Ou um famoso “D’oh!”  de Homer Simpson? Ou ainda, decorou algum dos poemas de Junior Kyle de ponta a ponta? Não se pode negar a influência e popularidade que esses personagens conseguem ter. E sabemos o motivo. Por que simplesmente são “burros”. Não fazem graça querendo ser engraçados, mas na maioria dos casos, são cômicos pois são naturalmente bobos e inocentes.

Só que quando você fica feliz por seu Facebook mostrar que o personagem que mais se parece com você é um desses, por que você despreza aqueles que realmente são assim na vida real? Acontece que dentro da TV, no mundo da ficção, amamos os chamados ‘burros’, mas quando conhecemos eles aqui do lado de fora, não é bem assim que acontece. As pessoas não têm paciência com quem é assim. Não gostam de serem vistas com elas. Não gostam de fazer os trabalhos acadêmicos no mesmo grupo. Não gostam de se relacionar com elas – duvido que você negaria uma Penny. As pessoas aqui fora, sentem pena. Se acham superiores e acabam tirando vantagem. Falam mal pelas suas costas. Fazem chacota e humilha-as. É triste e vergonhoso em alguns momentos.

Mas então, por que existe essa diferença? Qual o motivo que te leva a amar o Jake mas odiar o filho da sua tia que é burro como uma porta? Seriam esses personagens uma espécie de mico de circo? Bobo da Corte, quem sabe? Só servem para nos fazer rir e ver o quão idiotas são as pessoas que eu desprezo? Por que você, que se acha intelectual, culto, inteligente e esperto, não consegue entender os tipos de dificuldades que o ‘burro’ que senta ao seu lado passa? É difícil para você, descer do alto do Monte Olimpo que é esse seu ego, para socializar com esse tipo de “gentalha”? Vá lá saber.

Perceba que em algum lugar do seu convívio, provavelmente existe alguém assim –e se não existir, esse alguém pode ser você. Que quando fala alguma besteira, todos ao seu redor dão risada. Quando você precisa dar um exemplo de idiotice, sempre lembra de alguma situação vivida por ele. Quando o grupinho está reunido, ele é sempre o ponto de partida para começar a “tiração” de sarro. Então dá para dizer que ser esse ‘burro’, fora da TV não é tão legal assim. O mundo não recepciona tão bem quem é estranho e pouco inteligente. O mundo, quer é levar vantagem em cima deles.


Posso ser muito conclusivo, precipitado por não levantar um estudo ou aprofundar-me efetivamente nesse caso. Posso ter cometido algum equívoco, claro. Uma coisa pode não ter ligação direta com a outra, também. Mas há muito tempo venho percebendo isso nos ambientes que frequento. Tanto no trabalho, em casa, nas salas de aula, existe um Joey ou uma Penny que são menosprezados. Às vezes é até estranho a pessoa dizer “amo a Penny” e dizer logo em sequência “aquela garota na frente da sala é muito estúpida”. Não sou o He-Man para deixar uma lição de moral no final da história e muito menos quero pregar a paz e o amor e dizer que devemos amar o próximo como a nós mesmos, pois o último que tentou isso acabou numa pior. Mas se eu puder deixar pelo menos uma reflexão no subconsciente de alguém, entendam que quem acaba se passando por esperto, na verdade acaba sendo mais ignorante que aquele que é vexado.

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