Estamos vivenciando um momento estranho dentro das quatro linhas
do futebol. Para os que, assim como eu, cresceram no momento em que o leque de
times e jogos do futebol Europeu começavam a tornar-se populares no nosso país,
os jogadores que começávamos a conhecer eram Beckham, Figo, Shevchenko, Crespo,
Pirlo, Zidane, Maldini e por aí vai. Esses eram os jogadores tops da
Europa que conhecíamos mais de perto. Diferente dos esquadrões dos anos 90,
principalmente, que nossos pais ou irmãos mais velhos ouviam falar, mas que
assistir mesmo, só de vez em quando. Quando não, apenas em Copas do Mundo.
A
sensação para quem cresceu vendo esses craques em campo é esquisita. Quem
estava acostumado a ligar a TV para ver um jogo do Liverpool contra o Chelsea,
esperava para ver o embate entre Gerrard e Lampard. Um nos Reds e outro nos
Blues, respectivamente. Mas agora com a transferência dos dois para o futebol
norte americano, fica um vazio no meio campo, ocupado por Hendersons ou Matics
da vida. Não é a mesma coisa.
Já
havia sido um choque para alguns a mudança de Milão para Turim de Andrea Pirlo.
Como assim o Maestro da camisa 21 havia deixado o Milan depois de 10 anos e ido
para um dos principais rivais, a Juventus? Não parecia certo. Tal qual é
estranho ver Xavi, considerado o maior jogador da história da Espanha, se mudar
para o Qatar ou Raúl, símbolo máximo do Real Madrid, que passou por Schalke 04
da Alemanha para depois também seguir para o Qatar, até chegar aos E.U.A. Esses
jogadores mereciam um final tão grande quanto suas histórias, mas preferiram os
"petrodólares" a um final de carreira digno, em alto nível, tal qual
Maldini teve.
O
momento atual é o de mudança, renovação, como muitos chamam. Mas ela precisa
ser tão destruidora?
A
lista vai aumentando a cada ano que passa e essa geração vai deixando seu
legado agora nos vídeos de YouTube. Apenas nesse museu é que podemos voltar a
ver Os Maiores Dribles do Mundo ou os Top 10 Golaços Del Piero. Essa geração
está saindo de cena e hoje entram Sterling’s, Bale’s e Neymares da vida.
“O
futebol está mais robotizado” e não fui eu quem inventou esse termo. Posso
estar profundamente enganado, mas jogadores que tratavam a bola com todo o
carinho do mundo, jogadores que podem ser chamados de craques sem que haja uma
divergência de opiniões como Raúl, Totti, Nedved ou Seedorf, que antes pareciam
existir aos montes, estão cada vez mais escondidos.
Dificilmente
vou me acostumar a ver Casillas, que durante 15 anos defendeu o Real Madrid,
agora de azul e branco debaixo das traves do Porto. Assim como não vou me
acostumar quando Totti deixar de vestir a camisa do Roma. Esses são, além de
jogadores extremamente talentosos, ícones de suas equipes. É como se fossem
sinônimos uns dos outros. Até me causa certo incômodo ver que Schweinsteiger vai sair do Bayern de
Munique, mesmo sendo para um outro time enorme, o Manchester United.
Esses
grandes jogadores tinham uma identidade com o clube. No Barcelona tínhamos
Puyol, que tinha estampado o
símbolo de toda uma nação no rosto. Quando subia aos gramados, era a
representação de todo o povo catalão, personificado em um homem só.
As
mudanças na vida são inevitáveis. E infelizmente, mesmo que muitos de nós não
queiramos, elas também atingem os gramados mundo afora.
Os
homens que em campo faziam outros homens se emocionarem fora deles, parecem ter
entrado em um processo de extinção. Que sorte a minha que pude desfrutar de
alguns deles.
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